terça-feira, 5 de junho de 2012

Canais dublados devem se tornar padrão na TV paga


Com a chegada da TV por assinatura, na década de 1990, um dos benefícios anunciados pelas emissoras eram os filmes legendados, com o dito “som original”.

Recentemente, já em meio à febre dos seriados, veio a surpresa: os canais pagos começaram a aumentar a programação dublada. Como na TV aberta, o formato tende a se tornar o padrão de filmes e seriados.

O fenômeno do aumento da dublagem também vai ao encontro da legislação que obrigará a televisão a oferecer recursos de acessibilidade até 2017. O debate ganhará espaço especial no Fórum Brasil, um dos maiores eventos das TVs aberta e paga brasileiras, que será realizado entre hoje e amanhã, em São Paulo.

A mudança vinha sendo orientada pelo perfil da classe C, principal responsável pelo aumento do número de assinantes. Entretanto, os canais se baseiam em um outro dado revelador, confirmado por um estudo do instituto Data Popular: 49% da classe AB preferem filmes estrangeiros dublados. Some-se isso à preferência de 76% por filmes dublados entre a classe C, e o português voltou à boca dos atores e apresentadores estrangeiros.

— Estamos em um país com o fenômeno da alfabetização funcional, com pessoas que leem, mas não compreendem, ainda mais na velocidade da legenda. Temos ainda as crianças e os idosos, que são significativos como públicos em que a legenda é impeditiva — analisa Cristiane Finger, professora de telejornalismo da PUCRS.

Se a tendência seguir, a possibilidade é que as legendas, quando oferecidas, sejam disponibilizadas apenas como uma opção ao alcance do controle remoto. A rede de filmes Telecine dá exemplos de que a legendagem perdeu espaço na TV paga. Dados do Ibope mostram que, seis meses depois de aderir à dublagem, a audiência do canal Telecine Action subiu 47%, escalando seis posições no ranking do horário nobre. A classe C aumentou em 61% sua presença naquela faixa de horário.

— Nossas pesquisas comprovam que os títulos na versão dublada agradam aos assinantes e já têm um público fiel. O Telecine Pipoca (dublado) também foi, em 2010 e 2011, o canal mais assistido da rede entre pessoas de classe AB com mais de 18 anos — diz Flávia Hecksher, gerente de marketing do Telecine.

Segundo ela, a transição colocada em prática nos últimos dois anos teria ajudado a influenciar a mudança de hábito de antigos espectadores:

— Nossos canais são para toda a família. O interesse em programação dublada é percebido hoje em todas as classes sociais e faixas etárias. Os assinantes estão muito mais à vontade para dizer que gostam de filmes dublados.

A crescente preferência pela dublagem também pode ser explicada pela nova relação entre audiência e TV: o comportamento multitarefa, no qual o espectador divide sua atenção entre a televisão, o computador e outras tecnologias.

— Precisamos considerar o fenômeno da segunda tela, com as pessoas vendo TV conectadas na internet. É por isso que a classe AB não rejeita de todo a dublagem — analisa Cristiane.

Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, complementa:

— A TV faz parte da dinâmica da casa. Muitas vezes, é ouvida e não só assistida. Quando se faz muitas coisas ao mesmo tempo, você não pode estar com o olhar só na TV. Além da velocidade da leitura, a legenda impede que a pessoas façam outras coisas quando estão vendo televisão.

Dados do Data Popular sugerem que a TV paga ganhará, em pouco mais de 10 anos, cerca de 12,8 milhões assinantes da classe C. A expectativa é que a penetração nessa classe deva se igualar à das classes AB. Ambos os segmentos poderão seguir unidos na preferência pela dublagem, ou procurando no controle remoto a melhor forma de assistir à programação:

— Teremos um consumidor menos passivo e mais interativo. O que se aposta é na convergência, passando a decisão para o receptor — opina Cristiane Finger.


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